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“Minha opinião muda com frequência, mas considero que ‘Machine Head’ é o disco perfeito de rock: conciso, só com músicas matadoras e com a duração adequada. É a essência do rock.”

A declaração é de Joe Satriani, guitarrista norte-americano especializado em música instrumental, em conversa informal com jornalistas após uma entrevista coletiva em São Paulo, antes de uma apresentação.

Ele se referia ao álbum “Machine Head”, do Deep Purple, clássico lançado em 1972 e que frequenta muitas listas de melhores de todos os tempos. Satriani sabe do que fala, já que tocou com a banda, em alguns shows, ao final de 1993 para substituir o ícone Ritchie Blackmore, que abandonara a turnê pelo Japão, saindo definitivamente do grupo;

Muita gente pensa como ele: não há nada a acrescentar ou tirar na obra-prima que é o sexto disco do quinteto inglês, o terceiro com a sua segunda formação. Ao longo do tempo, foi ganhando novas versões em utros formatos com músicas bônus, CDs bônus e edições de luxo que marcaram os seus 30 anos e 40 anos de lançamento.

A pandemia de covid-19, que parou o mundo em 2020 e 2021, atrapalhou os planos de mais uma edição ampliada quando da celebração do cinquentenário de “Machine Head” em 2022, mas ela finalmente está no mercado, ainda que atrasada. 

As  gravadoras Warner Records e Rhino Entertainment lançaram agora uma caixa contando três CDs, um LP e um Blu-Ray, com gravações inéditas, novos remixes em Stereo e Dolby Atmos feitos por Dweezil Zappa (filho de Frank Zappa, parte importante para a criação do álbum), uma versão quadrifônica de 1974 e uma nova versão remasterizada; 

Os dois CDs bônus trazem apresentações ao vivo, uma em 1972, no Paris Theatre, em Londres, e outra em Montreux, na Suíça, em dezembro de 1971, na época em que gravava, o álbum.

A concisão elogiada por Satriani é coroada pelos dois maiores hits do grupo, “Smoke on the Water” e “Highway Star”, presentes em qualquer lista de melhores canções de todos os tempos. É o auge criativo de um grupo que fazia rock pesado incorporando elementos do jazz, do blues, do folk e da country muisc. 

O tecladista, Jon Lord )1941-2012), era formado em regência e admirado como um músico erudito antes de se dedicar primeiro ao rock progressivo, depois ao rock pesado.

“Smoke on the Water”, o clássico maior, com seu riff antilógico, foi composto no estúdio (na verdade o saguão do Grand Htel, em Montreux, na Suíça), durante as gravações de “Machine Head”.

Ian Gillan durante show do Deep Purple em 1972 (FOTO: JORGEN ANGEL/DIVULGAÇÃO)

 A estada ma cidade incluía também um show no festival de jjazz da cidade, que começava a ficar mundialmente famoso e no qual a banda já tinha tocado em anos anteriores. 

O quinteto e equipe técnica se preparava para jantar uma noite quando foram atraídos pelo incêndio no cassino em que os shows do festival ocorriam, o Barrière. Da janela do hotel viram  gofo se alastrar no prédio que ficava do outro lado do lago Genebra. 

Durante o show de Fran Zappa, um imbecil acendeu um sinalizador na plateia, da mesma maneira como ocorreu na boate Kiss, em Santa maria, em 2013, em incêndio que matou 242 pessoas.  

No cassino Barrière, em 1971, ninguém se feriu, mas o incidente ficou mundialmente conhecido porque inspirou a canção “Smoke n the Water” e é cotado na letra. 

Ao contrário das famosas caixas com material extra, que geralmente só interessam de verdade a colecionadores fanáticos do artista, a nova caixa do Deep Purple deve agradar a um público mais amplo por conta das apresentações ao vivo contidas nos CDs bônus, que registram a fase mais arrebatadora ao vido do grupo com aquela formação.

É consenso que o LP duplo ao vivo “Made in Japan” é um dos mais importante registros ao vivo de rock já lançados. Foi gravado em apresentações no Japão entre 15 e 17 de agosto de 972, sendo lançado em dezembro daquele ano. O show de Londres de maio de 9172 e o de Montreux, em 1971, são tão bons quanto nos quesitos energia e espontaneidade, com o Deep Purple feroz e totalmente entrosado.

A música foi o destaque do LP “Machine Head”, que seria gravado no Grand Hotel, também em Montreux. O disco saiu em março de 1972 e, para muitos, é o maior momento da carreira do Deep Purple.

“‘Machine Head’ nasceu de uma catástrofe, mas acabou se tornando um momento único na carreira do Deep Purple” diz o cantor Ian Gillan em entrevista concdida ao jornalista brasileiro André Barcinski e publicada no jornal Folga de S. Paulo. “Era o terceiro disco com a nova formação da banda, que incluía Roger Glover e eu, e estávamos num momento maravilhoso, compondo e tocando como nunca. A banda nunca estivera tão afiada.”

Gillan diz que a banda decidiu gravar o disco em um cassino porque a grande maioria dos estúdios da época não eram adequados para uma banda como o Deep Purple. Involuntariamente, foi uma das melhores decisões que um grupo de rock poderia tomar.

A entrevista de Ian Gillan ao jornal paulistano pode ser acessada neste link.