Escolha uma Página

 Bernie Marsden é um dos músicos importantes do rock que podem se orgulhar de terem dado várias voltas na carreira e sair por cima em alto estilo. Quase perdeu o bonde da história ao ser demitido do UFO em 1973 – não chegou a tempo para um show da banda na Alemanha, que teve de pedir para um guitarrista de 17 anos da banda de abertura substituí-lo – era Michael Schenker e a banda, Scorpions.

Marsden seguiu em frente na sua Inglaterra natal e se tornou um competente e requisitado guitarrista de blues no circuito underground até chegar ao estrelado com o Whitesnake a partir de 1978, formando uma dupla afiada na guitarra com o amigo Mick Moody.

Quase 50 nos depois da “furada” que quase afundou a carreira, Marsden se tornou um grande mentor de músicos jovens, um compositor prolífico e produtor requisitado – tanto que recebeu créditos especiais ao ajudar nas gravações e composições de “Royal Tea”, penúltimo e excelente disco do blueseiro guitarrista americano Joe Bonamassa.

Aparentemente com a vida mais tranquila, o corpulento e sorridente guitarrista inglês engatou uma trilogia elogiadíssima dedicada ao blues tradicional e a tributos a heróis desde sempre que fizeram a sua cabeça. A última parte acabou de ser lançada, com o título de “Trios”.

“Kings” e “Chess” foram lançados no ano passado. O primeiro homenageia os três Kings do blues americano – os reis B.B. King, Freddie King e Albert King, exímios guitarristas; o segundo traz cações marcantes da gravadora americana Chess, de Chicago.

“Trios”, como o nome sugere, é uma imersão à música dos trios clássicos americanos do blues e aos chamados power trios ingleses. 

Ao contrário do que se possa imaginar, todas as essas gravações são inéditas, mas não recentes. Foram registradas em 2007 ao lado do baterista Jimmy Copley, que morreu em 2017, e do baixista David Levy (que estava com Rory Gallagher em suas turnês finais, entre 1994 e 1995).

Sua devoção a Peter Green, do Fleetwood Mac dos anos 60, é quase uma obsessão. Já tinha gravado um disco inteiro em homenagem a ele em 1995 e volta ao repertório do herói na ótima “Driftin’ Blues”.

Do amigo Eric Clapton ele revisita “Outside Woman Blues”, original de “Blind” Joe Reynolds de 1929 – é regravada pelo Cream no disco “Disraeli Gears”, de 1967. regravou a maravilhosa “Spanish Castle Magic”, com solos incandescentes e um pouco mais de peso nos riffs.

O guitarrista privilegiou versões mais roqueiras de alguns clássicos, como a obscura “Drifting”, outra de Hendrix, que não chama a atenção como a pesada “Bçack Cat Moan”, uma música de Don Nix que estourou ao ser incluída n álbum “Bck, Bogert and Appoce”, de 1973. É um belo tributo a Jeff Beck.

O irlandês Rory Gallagher, outra influência máxima, foi lembrado com uma versão matadora de “Same Old Story”, do trio Taste, enquanto que “Na Na Na” é uma curiosidade, da carreira solo do baterista Cozy Powell, morto em 1998. Há boas versões de músicas de guitarristas como Johnny Winter, Robin Trower e Leslie West.

Dos três álbuns, o mais interessante é “Kings”, com Marsden mergulhando fundo no repertório dos três reis da guitarra. “Key to the Highway” ficou diferente e pesada. “I’ll Play the Blues for You”, famosa com Albert King (mas composta por Jerry Beach), é mais fiel à “original”, mas tem mais peso e um timbre diferenciado.

“Chess” é o disco mais reverente, em que Bernie Marsden está um pouco mais contido. Escolheu bem as canções, mas parece ter deixado o melhor de suas performances para os outros dois álbuns. Quem bom que o inglês resolveu tirar a poeira dos arquivos e mostrar que continua sendo um extraordinário guitarrista de blues rock.