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E o desastre não consumou. Quando se imaginava problemas imensos por conta do cancelamento do Foo Fighters – o baterista Taylor Hawkins morreu na Colômbia, no dia 25 de março -, a burrice bolsonarista (redundância) salvou a edição de 2022 e a tornou histórica: finalmente os artistas mais populares – quase nenhum do rock – se juntaram no repúdio à censura e a atentados à liberdade de expressão. E ainda por cima intensificaram os protestos contra o governo de extrema-direita e de inspiração fascista.

Nunca a democracia foi tão exaltada por astros da música como agora, deixando isolados os sertanejos oportunistas, cujo silêncio é cada vez mis eloquente em defesa do nefasto mundo bolsonarista.

Com a marca do protesto, o festival tornou-se um libelo contra a intolerância e a censura, que se tornou inócua: a decisão do TSE (Tribunal Superior eleitoral) ilegal e inconstitucional, de proibir manifestações políticas citando algum pré-candidato a qualquer coisa, foi solenemente ignorada por público e cantores, em uma mais que saudável atitude de desobediência civil.

Sem Foo Fighters, o rock quase não existiu no último dia, que teve bons shows de Black Pumas e Idles. Nada que seja marcante o suficiente para ser lembrado por anos, mas empolgante o suficiente para engolirem o restante das atrações do festival, que estiveram entre o ruim e o esquecível.

Black Pumas é uma atração curiosa, na linha White Stripes, Black Keys e Royal Blood – um duo que compensa a falta de um instrumento importante com energia e muita distorção, embora tivesse banda de apoio em São Paulo. É indie, mas faz um rock bem competente e instigante.

The Idles, por sua vez, é mais do mesmo do pop rock movido a guitarras supostamente perigosas, mas que soam , na verdade, insossas e inócuas. Ainda assim fizeram bem em um evento onde as guitarras não se destacaram.

A política salvou o evento e deu a letra para o que deve ocorrer nos próximos megafestivais, especialmente o Rock in Rio, em setembro, um pouquinho antes das eleições presidenciais. O clima estará quente e será importantíssimo que os artistas estejam mais empenhados do que nunca em lutar pela democracia, contra qualquer tipo de censura e fascismo.