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Emerson (esq.), Lake (centr5o) e Powell (FOTO: DIVULGAÇÃO) 

São raros os artistas que percebem a situação de esgotamento criativo e admitem que passam por tal problema. E mais raros ainda aqueles que tomam decisões radicais para mudar.

O tecladista inglês Keith Emerson teve essa sabedoria e reuniu coragem para convencer os colegas Greg Lake (baixo e vocal) e Carl Palmer (bateria) a encerrar o trio Emerson, Lak &d Palmer no fim do auge da trajetória do grupo em 1980.

Quando houve a volta, seis anos depois, os fãs foram surpreendidos. O ELP voltava à ativa, mas o P não era Palmer, mas um certo senhor Powell – Cozy Powell, um dos melhores bateristas da história do rock, um substituto à altura para a lenda Carl Palmer.

E o trio virou Emerson, Lake & Powell, que lançou apenas um trabalho, em 1986. No entanto, o acordo mesmo ocorreu um ano antes, quando os ensaios começaram na Inglaterra, há 38 anos.

E surge um grande P como opção

Na época em Keith Emerson reunia forças para ao menos discutir a separação ou eventual hiato prolongado do trio, em 1980, Lake e Palmer tinham a mesma impressão, mas cada um deles estava reticente em abrir o jogo com os colegas, com medo de errar feio.

Emerson tomou a iniciativa de colocar o assunto na mesa. Aliviados, todos admitiram que era hora de parar por ali, após o os resultados decepcionantes do apenas mediado álbum “Love Beach”, de 1979.

Felizes, os três encerram o grupo sem dramas e partiram para novos projetos. palmer montou o Asia com John Wetton (ex-Uriah Heep e King Crimson), Steve Howe (ex-Yes na época) e Geoff Downes (tecladista com passagem pelo Yes). Emerson e Lake iniciaram carreiras solo.

Cinco depois, uma onda de nostalgia assolou o mundo do rock progressivo com o surpreendente sucesso da nova formação do Yes, ressuscitado em 1983 com pegada um pouco mais pop e totalmente estourado nas paradas com o álbum “90125″, puxado pelo megahit “Owner of a Lonely Heart”.

Greg Lake achou que seria uma boa ideia reativar o antigo trio, já que sua carreira solo não decolara. Não foi difícil convencer Keith Emerson, até então o mais reticente com a reunião.

Embora com carreira solo relativamente bem-sucedida e enfronhado na área de composição de trilhas sonoras para cinema, adorava os holofotes e estava ressentido por estar “esquecido” em um tempo onde o heavy metal cru e barulhento e o hard rock de cabelos de laquê dominavam tudo.

O problema era Carl Palmer, então líder do Asia, que se tornara um sucesso monstruoso com sua música pop derivada do rock progressivo, mas com bom gosto.

O baterista ficou tentado a se reunir com os antigos companheiros, mas não conseguiu se desincumbir dos compromissos com sua banda à época. ele tentou várias soluções, mas Howe e Downes pediram para que não saísse.

O jeito foi improvisar e achar outro P para reativar o ELP. A opção foi encontrada de fomra muito rápida e de forma consensual: Cozy Powell, um virtuoso da bateria com pegada forte e tendência a se envolver com projetos de música pesada. O currículo era impressionante: o obscuro mas ótimo Bedlam, Jeff Beck Group, Rainbow, Whitesnake, Roger Daltrey, Black Sabbath, Michael Schenker Group, Gary Moore…

O entrosamento não foi difícil, já que Powell era muito profissional e excelente músico. No final de 1985 o acordo foi selado e o trio logo entrou em estúdio para gravar o único álbum da banda, “Emerson, Lake and Powell”, de grande repercussão e bom desempenho nas emissoras de rádio de paradas de sucesso, ancoradas na música power progressiva “Touch and Go”, sucesso imediato.

Outras ideias muito boas estavam no disco, como a excelente “The Score”, totalmente progressiva, com ares setentistas, mas com sonoridade moderna e um show de exibicionismo de Emerson.

Para compensar a dispensável balada “Lay Down Your Guns”, um monumento erudito em forma de rock pesado e progressivo: “Mars, The Bringer of War”, do compositor austríaco Gustav Holst e parte integrante da sinfonia “The Planets”. Os três brilham na música, mas fica nítido que Powell foi o que mais se divertiu.

Tudo muito certo, tudo correndo bem. Só que o espírito nômade de Powell se manifestou novamente. Por mais que trabalhasse com dois músicos excelentes, sentiu que sua criatividade estava limitada. Por outro lado, Emerson ficou incomodado com o peso adicionado por Powell ao trio. Sentia saudades dos fraseados mais complexos e inventivos de Carl Palmer.

Lake compartilhava da opinião do tecladista, mas, ao contrário, estava curtindo a nova fase e a pegada pesada do substituto de Palmer. O baixista sempre foi o mais chegado ao mundo pop. De certa forma, era o menos erudito, o que não quer dizer mais fraco – muito pelo contrário.

Potência e qualidade

O fato é que havia muito respeito profissional e musical entre os membros, houve profissionalismo ao extremo e a realização de um álbum muito bom e uma turnê bem-sucedida. Só que a química não era a ideal. Powell disse tempos depois que curtiu cada segundo trabalhar com os dois, mas que definitivamente o rock progressivo não era a praia dele. A separação foi consensual e inevitável.

A carreira dos músicos desde então foi tortuosa. Emerson tentou reunir o Emerson, Lake and Palmer em 1988, já que Carl Palmer havia deixado o Asia. O problema foi Greg Lake, que já tinha se comprometido com outros projetos – e também não mostrou muito interesse em voltar.

O jeito foi montar algo parecido com a parceria com Powell de dois anos antes. Para o lugar de Lake, foi convidado o multi-instrumentista norte-americano Robert Berry, em um projeto batizado de 3 (ou Three, em alguns países). Um único álbum surgiu, “The Power of the 3″, creditado na primeira prensagem, na Inglaterra, a Emerson, Berry and Palmer.

Mesmo com o fracasso completo do álbum, houve uma pequena e interessante turnê pelos Estados Unidos em 1989. Fim de turnê, fim de grupo. A reunião do trio original só ocorreria em 1992, com turnê mundial (que passou pelo Brasil) e um novo álbum, “Black Moon”.

Deu tão certo que o grupo manteve a pegada até 1998, quando nova separação ocorreu, desta vez não de forma muito amigável. Emerson reclamava na internet que Lake não se dedicava à banda e à evolução musical como ele e Palmer.

Todos retomaram suas carreiras solo, com Lake tocando com Ringo Starr em 2001 e depois paulatinamente diminuindo suas atividades. Em 2004 tocou baixo na música “Real Good Looking Boy”, a primeira música inédita do Who desde 1988.

Palmer criou a sua Carl Palmer Band e foi o cabeça da reunião da formação original do Asia em 2007. Emerson voltou-se para o jazz e para o blues em sua carreira solo.

O trio fez uma última aparição no High Voltage Festival em 2010, em Londres, quando comemorou os 40 anos de criação do trio. Os três disseram que nunca mais o ELP vai se reunir. Acertaram na previsão: Emerson se suicidou aos 71 anos de idade no começo de 2016, e Lake morreu de câncer, aos 68 anos, no final do mesmo ano.

Já Cozy Powell manteve-se altamente produtivo após a colaboração com Lake e Emerson. Fez parte do Black Sabbath entre 1989 e 1991. Deveria fazer parte da formação da banda que resgatou Dio, a que gravaria o álbum “Dehumanizer”, lançado em 1992, mas caiu de um cavalo às vésperas da gravação e quebrou a bacia. Voltaria a tocar o grupo em 1995, mas só no álbum “Forbidden”. Na turnê, quem tocou foi Bobby Rondinelli.

Após dois anos tocando com uma nova encarnação da banda pop Fleetwood Mac, mudou radicalmente e se tornou o baterista do guitarrista sueco de heavy metal Yngwie Malmsteen, mas tocou pouco na turnê daquele ano, pois teve uma lesão séria no pé e teve de abandonar o barco.

Apaixonado por velocidade, tinha uma pequena coleção de carros esportivos. Foi a bordo de um deles, um modelo Saab, que morreu na hora ao espatifá-lo em 1998 contra um guard-rail em uma estrda nos arredores de Bristol, na Inglaterra. Segundo sua namorada, ele estava ao telefone celular com ela na hora da colisão. Powell tinha 51 anos de idade.