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Ele foi o vocalista que mais tempo cantou com o Black Sabbath depois de Ozzy Osbourne, mas ainda assim é desprezado pela maioria dos fãs e críticos. O inglês Tony Martin é tão ruim assim? Será que o guitarrista Tony Iommi estava tão cego e surdo que permitiu que esse músico ficasse tanto tempo na banda?

Martin ajudou a segurar a ponta quando o Sabbath parecia ser mesmo uma piada de mau gosto na segunda metade dos anos 80 e emprestou a sua voz para cinco discos da banda, além de um DVD/CD ao vivo, mesmo tendo sido sacaneado duas vezes por Iommi.

Amargurado e desiludido, tinha se retirado do mundo da música até vislumbrar a chance de voltar a trabalhar com o guitarrista do Black Sabbath em 2022, agora que a banda não existe mais. Porém, escaldado com o oportunismo do músico bigodudo, voltou a gravar e compor, com um CD prestes a ser lançado neste começo de ano.

“Thorns” promete um mergulho no heavy metal que fez a sua fama, como podemos observar em “As the World Burns”, o primeiro single recém-lançado. É uma música poderosa, embora sem um pingo de originalidade. É metal moderno, com guitarras com afinações mais baixas e bastante pesadas. É uma boa volta para um cantor de bons recursos que foi injustamente demonizado.

Anthony Phillip Harford é um conterrâneos dos integrantes do Black Sabbath. Aos 64 anos, ainda mora em Birmingham e tentou sem sucesso embarcar na onda do metal britânico do começo dos anos 80. Quando parecia quer as coisas não se desenrolariam, vendo a idade chegando, acabou indicado por amigos de Iommi para tentar evitar o naufrágio do Black Sabbath. E definitivamente assumiu o nome de Tony Martin.

Traumatizado com os problemas com drogas de Glenn Hughes (ex-baixista e vocalista do Deep Purple) e com o novato Ray Gillen, Iommi viu-se novamente sozinho para empurrar o Black Sabbath à frente. Desesperado, acabou se agarrando ao correto Tony Martin para que este regravasse os vocais do que viria a ser o bom disco “Eternal Idol”, de 1987.

Sem o carisma de Ozzy e o talento de Ronnie James Dio, Martin foi a boia de salvação de uma banda à beira da desintegração. Até 1990 viriam mais dois discos sem muita inspiração – “Headless Cross” (1989) e “Tyr” (1990) até que ficasse sabendo por amigos que Iommi estava articulando a volta de Dio e Geezer Butler (baixo) para reviver os bons tempos de “Heaven and Hell” (1980).

Sem nenhuma satisfação, viu=se fora da banda que ajudou a manter de pé. Fez um álbum solo (“Back Where I Belong”, de 1992, mais voltado pra o hard rock) e acabou surpreendido por uma ligação do próprio Iommi no começo de 993. Não houve pedido de desculpas, mas um convite para voltar depois de nova briga com Dio.

“Cross Purposes” e “Cross Purposes Live” (1994) e “Forbidden” (1995) tinham boas ideias, mas não era o suficiente para Iommi e os fãs da banda. Faltavam carisma, vocais poderosos e músicas boas. E então Martin ficou sabendo pela imprensa que Iommi e Ozzy vinham conversando sobre uma reunião d abanda original. Mais uma vez, não recebeu satisfação por sua nova demissão. E então ficou 20 anos sem conversar com Iommi.

As conversas entre os dois foram retomadas há dois anos, um pouco antes da pandemia, quando o guitarrista revelou em uma entrevista que estava remexendo gravações antigas e teve a ideia de remasterizar todos os discos da era Tony Martin para o lançamento de uma caixa de CDs. Entrou em contato com um ressabiado Martin e desde então conversam sobre trabalhar juntos de novo, em um projeto ainda sem nome.

Não se trata aqui de defender um músico terrível que não merecia estar no Black Sabbath. Trata-se de um reconhecimento de um bom trabalho feito em uma época que o Black Sabbath parecia a caminho da extinção – talvez devesse mesmo ter acabado devido às incontáveis formações entre 1986 e 1991 e ao período de pouca inspiração.

Martin esteve longe de brilhar e não tinha mesmo por que ser comparado a Ozzy e Dio, muito superiores. No entanto, fez um trabalho digno e topou a execração mundial para manter a banda de pé.

Quando veio ao Brasil com Black Sabbath em 1994, para o festival Monsters of Rock, em São Paulo, sua performance foi abaixo da crítica. Cantou mal e pareceu sem vida ou entusiasmo para enfrentar uma multidão exigente. Não agradou e só reforçou a crença de que nunca esteve à altura da banda. Um evidente exagero.

Quando lançou “Scream”, em 2005, um disco mais pesado e recheado de boas composições, conseguiu calar parte dos críticos, mas aí sua carreira já estava em um desvio do qual não conseguiria se recuperar. Acabou montando bandas temporárias para tocar canções do Black Sabbath e de classic rock para tocar pela Europa, Ásia e América do Sul.

Tony Martin é um músico injustiçado e merece uma nova oportunidade, sem sacanagem, de trabalhar de forma decente com Tony Iommi, que ultimamente anda fazendo música com fins comerciais – lançou um single em 2021 ao lado de um empresário italiano (que também toca guitarra) para embalar a campanha publicitária de lançamento da marca de um perfume.