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Laura Finocchiaro (FOTO: ROBERTO SETTON/DIVULGAÇÃO)

O filme é bem antigo e com um roteiro bem fraco e piegas – nem ao menos o nome a maioria das pessoas se lembra. Mas uma cena é emblemática: a mãe vê o filho vivo send retirado dos escombros da casa derrubada pelo furacão e se comove com o sorriso dele ao vê-la: “É preciso coragem para querer sobreviver em um mundo tão rude”, disse a mulher.

As vitoriosas vida e carreira da musicista e ativista cultural gaúcha Laura Finocchiaro se encaixam, em grande parte, na máxima proferida ela mãe aliviada no filme: coragem foi o que não faltou em sua trajetória underground como guitarrista, compositora e cantora. 

As dificuldades atuais de um mundo musical depredado pela falta de uma indústria cultural e pelo aparente desinteresse da maioria das pessoas pela música e pela arte só a movem ainda mais para a frente em busca de algum reconhecimento – não para ela, mas para artistas que sofrem com a invisibilidade na era pós-pandemia, em que o entretenimento ainda não se recuperou totalmente dos efeitos do vírus no mundo.

É para lutar contra essa invisibilidade que ela criou o projeto “Quinze Minutos com Laura Finocchiaro”, um concurso de “calouros” para encontrar novos talentos em várias áreas, mas principalmente na música. 

A primeira seletiva ocorrerá no Centro Cultural da Penha no dia 26 de maio e é direcionado para o púbico LGBTQIA+ que mora em bairros pobres e periféricos – quer maior invisibilidade do que isso, para não falar do profundo preconceito?

“Temos de jogar luz para o talento que está escondido, mas discriminado pela pobreza e pelo preconceito”, afirma artista radicada em São Paulo. “Nunca foi fácil viver de arte undergtound no Brasil e as coisas estão ficando difíceis com ou seu pandemia. É preciso abrir novas perspectivas.”

Ela sabe o que é lidar com invisibilidade, ainda que tenha um reconhecimento artístico relevante – tanto que empresta seu nome ao festival para caçar novos talentos. 

Aos 62 anos, ativista da causa LGBTQIA+ e com 25 álbuns lançados em 42 anos de carreira, detecta uma dificuldade cada vez maior de encontrar locais para tocar e convencer promotores/produtores interessando em contratá-la para shows solo.

É contra um processo cruel e repetitivo que ela se insurge e tenta jogar luz na invisibilidade que tanto combate. “Artista underground, homossexual, ativista política progressista e mulher vítima de machismo. É muita coisa contra para lutar apesar dos avanços dos últimos anos. Eu tento e sempre vou fazer a minha parte, mas não quero que me digam que foi só isso o que me restou. É apenas uma parte de um projeto de vida.”

É um projeto infinito, que congrega várias “personas” e que tem inspirações múltiplas, mas principalmente em uma de suas irmãs, a cantora Lory F., que se tornou símbolo do underground paulistano nos anos 80 e acabou vitimada pela aids em 1991.

“Não tem um dia em que eu não pense em minha irmã e dedique algo de bom que faço a ela. Mais do que inspiração, sua memória me encoraja a prosseguir”, relembra Laura.

Nascida em uma família de classe média com uma vida confortável, Laura percebeu cedo que seria artista e que era diferente do que o “mundo burguês” projetava e tentava impor a ela. A rebeldia era a maneira que ela e Lory encontravam para sobreviver e respirar. 

À medida que a vida financeira da família deteriorava, mais crescia a busca por liberdade. Ela e Lory voaram e ganharam o mundo. 

Laura se encontrou com os artistas de vanguarda de São Paulo e foi presença marcante no teatro Lira Paulistana, na zona oeste da cidade, onde ombreou em talento e criatividade com gente muito importante, como Arrigo Barnabé.

Alguns detratores ironizam o fato de Laura Finocchiaro bradar independência e se orgulhar de estar no underground mesmo quando se tornou uma bem-sucedida profissional da área de audiovisual – área em que trabalha até hoje. Foi diretora de programas de TVs em emissoras de São Paulo e responsável criativa por diversas atrações populares. 

São os mesmo chatos que atacam João Gordo, dos Ratos de Porão, por ter se transformado em apresentador de TV e “celebridade”, mas que não pagam suas contas e nem os custos de seu projeto social de levar comida vegana para pessoas em situação de rua na capital paulista.

“Não costumo ter tempo para me preocupar com esse tipo de ‘crítica’. Minha vida e meu ativismo falam por mim”, desdenha a musicista. “Se não conseguem fazer a distinção entre minha vida artística e a minha vida profissional, não há o que fazer. Não altera em nada os meus projetos e a minha satisfação pessoal de fazer o que gosto, mesmo sem muito dinheiro.”

Inquieta e sonhadora, Laura nunca foge de uma boa briga, mas sempre como último recurso. Aprendeu demais com a vida para saber quais combates vale a pena travar. Eles são muitos, e precisam ser analisados e escolhidos com cuidado.

É o caso de suas participações nas Paradas do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo. Cansou de encarar certas brigas nos bastidores, mas sem abandonar a luta. “Participo e sou ativa, mas meu foco agora é na construção de caminhos e pontes. E, principalmente, na arte e na conscientização.”

Por isso é tão importante, como ela própria ressalta, o caráter pedagógico do evento “Quinze Minutos com Laura Finocchiaro”. Assim como diversos ativistas e intelectuais, ela abusa da educação para combater o preconceito e a intolerância que tanto a acompanharam em seus 42 ano de vida artística.

“De certa forma, a intolerância acabou forjando parte da minha personalidade”, diz a guitarrista. “Nunca foi fácil, nem de longe, mas posso dizer que eu, mulher branca e de classe média, não sofri tanto quando a galera preta, pobre e homossexual insanamente perseguida neste país; é preciso combater qualquer tipo de intolerância, mas é primordial que invistamos na educação para eliminar o preconceito racial, de gênero, orientação sexual e econômico.”

Clique aqui para saber mais sobre “Quinze Minutos com Laura Finocchiaro”

Cloiue aqui para escutar o programa de web rádio Combate Rock com a entrevista de Laura Finocchiaro

Serviço: 

Quinze minutos de Fama com Laura Finocchiaro Dia 26 de maio Horário: 18 às 20 horas Grátis Retirar ingressos uma hora antes na bilheteria Centro Cultural Penha Largo do Rosário, 20 A dez minutos a pé da Estação Penha – Linha três (3) Vermelha do Metrô 

Contatos: 2095-4068 @ccpenha facebook.com/centroculturalpenha

* Com informações do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira