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Tony Babalu (FOTO: KAREN HLTZ/DIVULGAÇÃO)

Apenas uma hora é pouco para apreciar e absorver a qualidade da música de Tony Babalu. Veterano guitarrista paulistano, legítimo espécime da Pompeia, bairro que concentrou a nata do rock nacional dos anos 60 e 70, desfila competência e feeling e forma inigualável em uma época em que a arte virou instrumento de ódio e de divisão.

A simplicidade com que trata a carreira é um modelo de comportamento para muitos músicos que acreditam que são mais do que são. Na Galeria Olido, no degradado centro de São Paulo, ele era um oásis de tranquilidade e eficiência emulando um tempo que não para.

Sua guitarra esplendorosa nos lembrou que o mundo ainda pode ser salvo por algumas poucas notas de rock, jazz, blues e country music ainda que a violência e o medo estejam à espreita na rua do lado, ou mesmo da aqui a algum tempo, na próxima eleição.

Babalu cumpria a segunda das três datas no rescaldo do mês do rock – ele tocará no fim do mês n teatro Alfredo Mesquita, em Santana, na zona norte de São Paulo. Seu rock instrumental de extrema qualidade é inspirador e passeia por uma séroe de melodias que remetem ao que de melhor se fez e se faz no gênero no Brasil.

A pandemia de covid-19 impediu que ele conseguisse divulgar a contento o EP “No Quarto de Som…”, lançado em 2021. Com uma banda fora de série – Adriano Augusto (teclados), Claudio Tchernev (bateria, que toca com os Mutantes) e Leandro Guzman (baixo) -, desfilou dez\ temas em que o equilíbrio deu o tom. Rock, jazz e blues, em canções emendadas com ótimas jam sessions, programadas para Babalu brilhar.

Com um toque delicado e timbre cristalino, o guitarrista fez a sua Stratocaster soar divinamente em “Locomotiva”, que abriu o show, como se tivesse convidado os ingleses Jeff Beck e John McLaughlin para brincar. O resultado ficou divino e poderia e bem que poderia encerrar aí o show.

Mas Babalu também decidiu chamar Jimi Hendrix e Eric Gales para o baile e engatou “Pompeia Groove”, que serviu para chacolhar o ambiente antes de entrar propriamente nos temas com evidentes toques brasileiríssimos, como “Meio-Fio” e “Lara”, onde a suavidade entrou em cena e incorporou elementos legítimos da sonoridade paulistana. E rock virou jazz.

“Reflexo”, do mais recente EP, tem uma clara inspiração no rock progressivo, mas são os arranjos pouco vonvencionais, repletos de brasileirismos, que fazem a canção soar como algo pitoresco e divino. É a excelência do toque de Babalu.

“Valsa à Paulistana” foi um prelúdio para o guitarrista mesclar jazz e samba de uma forma irritantemente fácil e singela, servindo de entrada para “In Black”, em que o mundo de James Brown e Sly Stone, junto com Parliament, inundasse o ambiente com muito groove, como se a qualquer momento Tim Maia fosse entrar no palco.

A versatilidade continuou com “Veia Latina”, dessa fez trazendo à mente o mexicano Carlos Santana, revelando a destreza e a habilidade de Babalu de passar de um estilo a outro sem perder a fluidez. Foi ocorreu logo em seguida, quando o hard rock entrou em cena na intensa e cativante “Vecchione Brothers”, uma homenagem aos irmãos Oswaldo e Celso, da banda Made in Brazil. E teve até jam session de blues no final.

A música instrumental de Tony Babalu mais uma vez trouxe à tona a essência do rock e do jazz como poucos conseguem fazer atualmente. Consegue extrair de forma elegante e delicada melhor de cada um dos gêneros com uma simplicidade desconcertante. É desse tipo de beleza que estamos precisando nestes tempos tão difíceis.