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O rock nacional não está fazendo 40 anos, como quer fazer crer parte embolorada da imprensa cultural nacional de olho em um marketing fuleiro e eventual faturamento com migalhas de um mercado publicitário em estado de putrefação.

Começou com um festival de rock nostálgico e jurássico criado no ano passado e que invadiu várias capitis neste ano com shows das bandas dos anos 80, com o título mentiroso de BR 40 ou Brasil Rock 40.

Por que esse movimento, de nítida inspiração bolsonarista, resolveu decretar que o rock começou no Brasil a partir da péssima “Você Nõ soube Me Amar”, da Blitz, de 1982? 

Por que enterrar em passado obscuro tudo o que de bom se fez antes desse ano, de Mutantes a Raul Seixas, passando por Secos & Molhados e as bandas de rock progressivo dos anos 80?

Em vez de estarmos aqui reverenciando os 70 anos de Ritchie e os 60 de Edgard Scandurra (Ira!) e Roberto Frejat (ex-Barão Vermelho), grandes nomes do rock oitentista, estamos embarcando em uma viagem às trevas em nome de uma suposta “marca”, que simbolizara a “inauguração” da cultura jovem brasileira.

Até mesmo reportagens de TV desinformam de forma despudorada, assumindo o rótulo “Rock Brasil 40 anos”, como se Roberto Carlos não tivesse existido antes de 1980, como se Erasmo Carlos nunca tivesse nada antes de aparecer como o “tiozão grandão gentil” do rock a partir de do mesmo ano de 1980.

O embuste tão grosseiro foi suficiente para ressuscitar a revista Rolling Stone Brasil, que sumiu das bandas há alguns anos e costuma assombrá-las com uma edição anual de qualquer coisa catada em seus arquivos – como uma recente edição de entrevistas antigas “requentadas”.

“Dossiê Rock Nacional 40 Anos” é a nova empreitada anual da capenga Rolling Stone Brasil, de responsabilidade da editora Spring. Será uma edição especial com outra qualquer, com boa qualidade de texto e pauta, se não fosse o título mentiroso, dando a entender que não existiu rock neste país antes de 1982.

Esse ambiente lamentável evoca o que mis temos combatido desde que o deplorável e nefasto Jair Bolsonaro assumiu a presidência. 

É fake news das mais nojentas essa insistência no “Rock Brasil 40 Anos”, e isso fica ainda mais grave em uma era em que se lê cada vez menos em uma terra devastada pela ignorância e pela deformação de caráter. 

Gente burra e gente nem tão burra está realmente acreditando que nunca houve rock neste país antes da Blitz, um combo circense e engraçadinho que fez música pop engraçadinha e nada mais do que isso – tanto que em 1984 já não tinha mais relevância.

Insistir nesta mentira é ignorar o movimento punk paulista que explodiu a partir de 1979 e que movimentou toda uma cena ativista e contestatória por mais de cinco anos. 

Convenientemente, os artistas que fizeram parte da geração 80 estão em silêncio e, de certa forma, aproveitando o revival justo e pertinente. Só não deviam ser coniventes com a mentira.

Saudemos os 40 anos do inicio da retomada da música e cultura jovens dos anos 80, imprescindível para a história deste país. Vamos ouvir e ver muito Titãs, Ira!, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Camisa de Vênus, Engenheiros do Hawaii, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho, Frejat, Biquini, Kid Abelha e todos os outros nomes importantes que ainda permanecem na ativa. Só paremos de disseminar a mentira do Rock Brasil 40 Anos. Sem as grandes bandas dos anos 60 e 70 esse suposto “movimento” jamais existiria.