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Telão do show de Roger Waters em São Paulo, antes do segundo turno da eleição de 2018: o Brasil queimou como nunca nos últimos anos, em todos os sentidos, mas resistiu; é hora de respirar e reconstruir (FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE)

Nunca na história da república uma data comemorativa de Dia da Independência fez tão sentido quanto o dia de hoje. Nem mesmo o 7 de setembro de 1985 foi tão celebrado, data em que nos livramos da criminosa e nojenta ditadura militar,

A celebração é mais do que necessária em tempos de fascismo á espreita e de ameaças cotidianas á democracia e aos direito humanos. 

A celebração é necessária para marcar posição depois de quatro nos de trevas, quando um governo nefasto depredou as instituições e implantou o retrocesso violento e perigoso em nossas vidas.

Estamos muito melhores e respirando ares mais limpos, mas isso não significa que estejamos bem, e os eventos terroristas de 8 de janeiro evidenciaram isso.

Enquanto o bolsonarismo asqueroso não estiver extinto – qualquer tipo de bolsonarismo – não estaremos bem. Enquanto não houver condenação e prisão dos criminosos institucionais e políticos que atentaram contra a democracia, a nação e os direitos humanos não estaremos bem.

Enquanto o governo de plantão estiver refém de um Congresso nocivo e fisiológico, e corrupto até a medula, não estaremos bem. 

Enquanto o governo de plantão usar a cooptação como método principal de negociação não estaremos bem. 

Enquanto ministérios como o dos Esportes e Cultura for moeda de troca com seres sedentos por se apropriar de verbas públicas não estaremos bem.

Enquanto houver artistas torpedeando o progressismo e louvando todo o conservadorismo nocivo ao cotidiano democrático não estaremos bem. E tem muita gente nociva desse tipo entre músico e apreciadores de rock. 

Expulsar os extremistas de direita de viés conservador fascista foi necessário e fundamental, mas é apenas o começo da caminhada para retomar o caminho do progressivo e espantar o retrocesso. 

Por isso não dá para tolerar atentados á democracia e a imposição de pautas conservadoras/religiosas de cunho preconceituoso que andamos vendo passeando por vários ambientes.

Lutemos por mais bandas como o Black Pantera, de Uberlândia (MG), trio de músicos negros que luta ferozmente contra o antirracismo e o antifascismo. 

Acusados de “incitar a violência” quando bradam “Fogo nos Racistas”, respondem com um heavy metal vigoroso ainda mais violento e contundente contra os detratores que não suportam a periferia se rebelar contra a opressão.

São dias de luta, como be cantou o Ira! na canção “Dias de Luta”, que ganhou agora saborosa releitura de Nasi, o vocalista da banda, em versão solo e encharcada de funk e de blues. 

E a luta dignifica quem se revolta e grita contra o solapamento institucional perpetrado por gente que defende o aprofundamento das desigualdades sociais e manutenção de privilégios. 

É muito forte a oposição de gente inominável que quer tomar terras indígenas e depredar o meio ambiente por meio do famigerado e nocivo Marco Temporal. 

É muito forte a oposição de gente que é contra o freio nos juros de cartão de crédito e a taxação maior para ricos e superricos/milionários/bilionários. 

Lutar contra esse tipo de medida que ameniza os problemas sociais brasileiros beira a deformação de caráter. Mas é esse o ambiente em que estamos enredados, escapando de flechadas diárias e caminhando em terreno minado. 

Quem imaginaria que um dia um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) iria invocar o “direito de conquista” de colonizadores portugueses para atentar contra o direito de indígenas permanecerem em suas terras, em flagrante “contestação” ao bom senso e á inteligência, indicando subserviência a interesses elitistas?

Como diria Renato Russo, da Legião Urbana”, em “Índios”, “recebemos espelhos e vimos um mundo doente”, sintoma evidente da persistência de um coronelismo que ainda infecta a sociedade e a contamina de forma a tentar “legitimar” o direito de posse e de mando de uma elite decadente e medieval.

É u dia de independência e de libertação de trevas que ameaçaram o nosso futuro. Teremos de ser ainda muito vigilantes para garantir que tenhamos algum futuro, de preferência sem ódio e com esperança.

Politicamente, estamos vivendo o primeiro ano do resto de nossas vidas, tamanha a importância da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Necropolítica”, dos Ratos de Porão, talvez seja a canção mais apropriada para simbolizar a tragédia que o mundo bolsonaro trouxe para nossas vidas. 

“O Pêndulo da História”, da Plebe Rude, contextualiza os desafios que os humanos brasileiros precisam enfrentar desde sempre para sobreviver nestes tempos duros e esboçando um pouco de otimismo. 

Por fim, o 7 de Setembro sem ódio e da esperança nos leva a ouvir canções que remete a um futuro um pouco melhor -“Carta ao Futuro” e “Não Existe Um Salvador da Pátria, ambas dos Detonautas – obras que partem de artistas dos mais atacados e vilipendiados pelo extremismo de direita.

 Servem como trilha interessante para um momento de reconstrução e de olhar para frente, mas que em nenhum momento sirva para que se pregue a reconciliação. Não pode haver reconciliação com terroristas e criminosos institucionais.