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A carne preta continua sendo a mais barata do mercado, e não adianta Black Pantera e Elza Soares bradarem esses versos na canção emblemática “A Carne”. 

É lindo ver a banda punk Punho de Mahin gritar contra os racistas e o ódio ao vivo, e dói ver uma loira estúpida ofender uma família carioca negra no metrô de São Paulo. 

É lindo ver brancos e negros indignados fecharem a mesma estação de metrô enquanto o dejeto humano racista não fosse detido e levado à delegacia – e dói saber que a loira nojenta foi liberada em mais um caso de “injúria racial” ser liberada, em caso a ser “investigado”, mesmo com vídeos comprovatórios de que ela cometeu o ato racista.

É esperançoso ver a onda de solidariedade ao técnico Roger Machado, do Grêmio, depois das ofensas racistas que sofreu em Ponta Grossa (PR) durante um jogo contra o Operário local. E dói saber que energúmenos racistas que torcem, para o Grêmio xingarem o técnico reclamarem do “mimimi” – mitos se referiram assim ao caso grave de racismo. 

Foi na periferia natal da vocalista Natalia Matos, do quarteto punk formado por negros Punho de Mahin, que o grito de raiva soou mais alto. Antes do show dos Ratos de Porão, em São Bernardo do Campo (Grande ABC), em 1º de maio, ela vociferou em “Navio Negreiro”: “Na calunga grande o negro era subjugado/Na calunga grande o negro era amarrado/Na calunga grande o negro era jogado”? O que mudou, na realidade?

Na violenta “Punho de Mahin”, Natalia estremeceu a Chácara Silvestre com os versos poderosos de resistência, protesto e liberdade: “Sigo com meus aliados/ Por uma terra sem reis, sem escravos/ Mulheres seguindo na luta/ Resistindo a toda tortura”.

“Os indivíduos (racistas) que estavam escondidos (porque a sociedade os reprimia) se sentem autorizados a se manifestar segundo as posturas e pontos de vista do líder da nação”, disse Roger Machado em entrevista coletiva recentemente. “Os interesses são convergentes. Temos que resistir, porque sua intenção é que retrocedamos, e isso não podemos permitir.”

Black Pantera (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ele sabe do que fala. Ouve esse tipo de barbaridade todos os dias e percebe  origem dos perpetradores de atrocidades verbais. 

É um padrão possível de identificar sempre desde o ano passado: racistas nos casos explícitos e denunciados são todos de extrema-direta que se acham “cidadãos de bem”, babam por políticos e religiosos corruptos e, invariavelmente, apoiam Bolsonaro quando se faz uma rápida checagem nas redes sociais. 

Por um lado, a manifestação racista faz com que o criminoso/preconceituoso se sinta empoderado por achar que tem a liberdade delinquir utilizando criminosamente o conceito da “liberdade de expressão”. Por outro, revela o medo que essa gente tem da “igualdade, fraternidade e da verdadeira liberdade”.

 Essa gente tem pavor de dividir o assento do avião com o pobre e o preto. Tem medo de dividir o quase nada que sobrou para a maioria da população brasileira vítima da falta de governo e de políticas econômicas deliberadamente prejudiciais aos interesses dos mais desfavorecido.

Nunca o discurso em prol da redução da desigualdade social fez tanto sentido e se faz tão necessário. Deixou de ser retórica ideológica para se tornar uma necessidade de sobrevivência da civilização.

Não é coincidência que os casos de racismo estão explodindo no dia a dia ao mesmo tempo em que os fascistas/bolsonaristas aumentam o volume de seus dejetos vociferados contra a sociedade. 

O racismo como arma política é um dos meios que a esgotosfera brasileira usa para validar a destruição institucional posta em prática desde que o nocivo e nefasto Jair Bolsonaro assumiu a Presidência – e que nunca a exerceu, já que jamais governou.

O racismo e todo o tipo de preconceito são maneiras de colocar os oponentes sempre na defensiva e de testar os limites da democracia. 

Com as seguidas tentativas de esgarçar os limites institucionais e constitucionais, os racistas/fascistas erodem cada vez mais a democracia e os direitos humanos. 

São vários os comentaristas políticos, de todos os vieses políticos, que alertam para a preparação para o golpe diante de um cenário incerto nas eleições deste ano – e bastante plausível de derrota bolsonarista.

Teremos golpe? teremos eleição? Teremos militares contando votos paralelamente? “As eleições podem ser suspensas se acontecer algo de anormal”, diz o nefasto presidente, que considera, certamente, a sua eventual/provável derrota um “fato anormal”.

E então o racismo entra no jogo para embaralhar as coisas, desviar focos e colocar os progressistas, os defensores da democracia e da civilização na defensiva. 

Punho de Mahim (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Quando “influenciadores digitais” imbecis questionam o porquê da criminalização do nazismo em rede nacional e na internet – e nada acontece – é é sinal de que estamos perdendo de goleada. 

É sinal de que a desumanidade venceu e o autoritarismo criminoso e homicida/genocida conta com a indiferença de uma população tragada pela crise econômica e asfixiada por uma inflação galopante e uma crise moral sem precedentes. 

E a crise moral é tão profunda que abre espaço para gente asquerosa bradar novamente pela censura ao protestar contra a canção “Fogo nos Racistas”, um grito de socorro contra a violência. 

A canção da banda punk mineira Black Pantera incita a violência? Ser racista e estimular o racismo/atos racistas são o que, então?

Criminalizar a vitima que reclama da violência que sofre é uma tática tão velha quanto eficiente – as vítimas de estupro que o digam, Só que, desta vez, a iniciativa está sendo neutralizada. basta ver a reação da população contra a loira do metrô paulistano detida por racismo – uma estação de metrô foi bloqueada até que seguranças e policiais militares a detivessem, Foi histórico e memorável.

“Fogo nos Racistas”, do Black Pantera, se tornou um lema e um hino – é uma das melhores canções do ano de 2022, que foi direto na veia do pescoço de tão certeira:

 “Eu sei, nossa simples existência já é uma afronta
Os demônios em você não aguentam ver
Outro preto que desponta
No estilo Django Livre
Ou no estilo Luis Gama
Representando os ancestrais
Afro-samurais
Os filhos de Wakanda
Um grito vem da alma
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Não precisamos tomar nada de ninguém
Só nos deixe ir reconquistar o nosso espaço
De Janeiro à Janeiro
Todo dia o ano inteiro
De Março à Março
A ascensão do império preto
O império contra ataca
O lado negro da força aqui
Só fode com reaça
E eu digo
Na sua cara
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Fogo nos racistas!
Fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
(Fogo) fogo nos racistas!
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
Deixa queimar!”