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Artista igual a pedreiro, trabalhando sem parar e mostrando uma nova forma de entreter, pensar e incomodar. O trio instrumental Macaco Bong arregaçou as mangas e investiu em um som pesado e barulhento para marcar posição após a pandemia de covid-19.

Abraçando o heavy metal, com uma pegada stoner e progressiva, “Live Garage”, gravado ao vivo em estúdio, é um mergulho em queda livre, em que a sensação de liberdade é cada vez mais flagrante e presente. Um segundo volume está prometido para 2023.

O som perde um pouco da lisergia que sempre foi característico na banda, mas ganha estofo com as novas timbragens de guitarra de Bruno Kayapy. O peso se espalha por todo o ambiente, com o baixo de Igor Carvalho servindo ora de base para as melodias de guitarra, ora de ritmo para agasalhar a feroz batida de de bateria de Marcus Fachini.

A correspondência internacional óbvia para esse tipo de som é o quarteto alemão Long Distance Calling, que lançou disco novo no meio do ano, mas o Macaco Bong vai além nas influências nas cinco canções de “Live Garage”, um lançamento da ForMusic.

As bandas americanas Mastodon e High on Fire surgem no horizonte como possíveis influências, assim como a britânica Orange Goblin, mas a miscelânea é muito mais profunda, como podemos observar nos mais de dez minutos de “É”, que encerra o trabalho é a melhor do álbum. É uma tema difícil, muito pesado de denso, com variações melódicas surpreendentes e arranjos que desequilibram o ouvinte.

“Vá” é mais direta e contendente, mas não menos agressiva. A sequência de riffs e a trocação de “farpas” entre Kayapy e Carvalho trazem novas cores ao som do Macaco Bong, em flagrante abuso de ambientações densas e urgentes.

“Uveite” é mais cadenciada, mas nem por isso menos claustrofóbica. Se a sequência de riffs pesados às vezes nos leva ao campo do jazz, o baixo surge para nos lembrar que que agora a banda está surfando, em bem, no metal.

“Carranca” abre o novo trabalho com uma bateria rápida e que esbarra no grunge, mas logo retoma o caminho mais intrincado do metal encorpado e cheio de riffs pegajosos e intensos – enquanto uma guitarra em segundo plano dá o suporte necessário para as viagens do guitarrista. A ambientação é ótima, ao estilo da excelente banda americana Animal As Leaders.

Em uma área um pouco mais moderna, com afinações gerais mais baixas, “Trabalho Forçado” mistura heavy tradicional com doom metal e new metal em arranjos que ressaltam a urgência da longa canção. Sobra espaço até para o noise dar as caras no plano secundário. É muito pesada, mas também muito progressiva em alguns pontos.

Na categoria de banda que se recusa a lançar álbum ruim, o Macaco Bong segue evoluindo e avança a novos patamares caindo no heavy/stoner metal. As canções agora incomodam mais e trazem elementos surpreendentes a um som que já era de alta qualidade.

“Ao longo de quase duas décadas de banda, comecei a perceber melhor esse feedback de como o nosso show é absurdamente superior a gravação que se ouve nos discos!” disse Kayapy ao site Wikimetal. “A experiência de estar presente no show do Macaco Bong é totalmente diferente da experiência de ouvir um disco. Esse é o primeiro álbum da banda que prioriza esse lado da sonoridade ao vivo dos nossos shows – por isso esse conceito de ‘Live’.”