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Sem medo de se reinventar, e com muitas outras alternativas à disposição. O guitarrista paulistano Xando Zupo, assim como muitos músicos de sua geração, é craque nos ressurgimentos e na criação de oportunidades. Por que seria diferente agora – só por causa de uma “mera” pandemia?

“Não tenho uma vocação para artista solo ou concentrar ideias somente para mim”, diz o instrumentista. “Anda que eu possa ser o criador ou centro de alguns projetos, creio que me saio melhor agregando e facilitando, sendo ou não o compositor principal. Assim tem sido a minha trajetória.”

Uma Banda Chamada Z é o próximo passo do guitarrista, que vem gestando o empreendimento há algum tempo. A primeira música, “O Babaca”, já foi lançada e tem bastante de sua bagagem musical de mais de 30 anos de rock nacional.

Com mais de sete minutos de duração, é um rock mais pesado do que ele costumava fazer nas bandas Pedra e Big Balls, em uma peça variada que mistura um bom hard rock com arranjos mais elaborados e um certo viés mais progressivo. é primeiro de três singles que serão lançados até o final do ano.

O material atual é mais direto e incisivo do que o que fez nos três discos da ótima banda Pedra. É mais orientado para o rock, com um pouco mais de peso, e os temas abordados refletem mais a realidade dos difíceis tempos atuais. “Estamos observando um retrocesso em vários aspectos de nossas vidas sociais e políticas, enfrentando uma falta de empatia e de compreensão como nunca vimos. É inevitável que isso me afete, como artista, de alguma forma.”

O emburrecimento, a estupidez e a falta de educação, a intolerância, crise, corrupção, guerras, ode as aparências e ao dinheiro, enfim, um mundo sem paz. Ele já fazia esses comentários lá atrás, ainda pensando em carreira solo, e as coisas só pioraram desde então.

Como cria dos anos 80, Zupo cresceu sob uma sobra de ditadura que se esvaía, mas não deixa de perceber o lima de tensão que domina o Brasil de hoje – que guarda semelhanças com o de 40 anos atrás, exceto pelo ódio profundo e que aprofunda diferenças dos dias de hoje.

Entretanto, Zupo acredita que as próximas músicas poderão ter outro aspecto, embora seguindo o mesmo conceito musical. para ele, de certa forma, é hora de tentarmos enxergar algo diferente e cuidarmos de recuperar o prazer na arte e no entretenimento. “Continuo fazendo música com esse objetivo, é assim que vejo a arte e o ato de compor.”

Uma Banda Chamada Z: da esq. para a dir., Renato Panda, Xando Zupo, Ricardo Alpendre e Ivan Scartezini (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Neste recomeço, que o instrumentista promete ser o último, a ideia é conciliar o desejo de recuperar uma sonoridade mais orgânica do rock e uma possibilidade expandir os limites, como em “O Babaca”, que tem camadas interessantes de sons diferentes e ideias de arranjos pouco usuais no cenário pop nacional.

O amigo Ricardo Alpedre, vocalista da banda Tomada, atualmente em hibernação, pareceu desde sempre o parceiro óbvio de composições e voz. Inteligente e versátil, transita por vários mundos e costuma ser uma usina de ideias. O baterista Ivan Scartezini é um companheiro quase que eterno desde os tempos de Pedra, e o baixista Renato Panda também é uma presença um tanto óbvia.

Zupo rechaça a ideia de uma continuidade de uma eventual carreira solo, que, de forma incipiente, foi gestada em 2016 com o final do Pedra. No entanto, por questões óbvias, o repertório dos shows ao vivo terá de ser engordado, e dois singles interessantes de 2016 serão resgatados – “Queimarás no Inferno” e “Não Há Nenhuma Paz.”

“O importante é continuar na pista, pois fazer música é uma necessidade constante. Eu nem imaginava que iria lançar alguma coisa tão rápido, mas as coisas estão vindo e estou afim de produzir mesmo. haverá temas da banda Pedra, do Big Balls, solo e talvez alguma coisa da Tomada”, diz o guitarrista.

A maneira de lidar com o mercado do século XXI também não mudou. Para o guitarrista, o mundo ficou mais fácil para a disseminação da música, mas os custos para produzir, gravar e lançar subiram e dificultaram as coisas. Portanto, em uma espécie de volta aos primórdios, os “compactos” viram a solução para o rock underground continuar existindo e fazendo música boa.

“Verão do Ao a Três” será um dos singles deste ano a suceder “O Babaca”, e celebrará a liberdade de comportamento, mas até do que o próprio amor a três”. “Eu e a banda acreditamos que é um tempo para celebrar a vida e a alegria depois de tanto sofrimento na pandemia e na vida cotidiana. É uma canção positiva, que celebra o amor, a liberdade e a vontade de viver e seguir em frente, sem medo. Pode ser trisal, com dois homens e uma mulher, duas mulheres e um homem, três pessoas do mesmo sexo, um casal e seu cachorro, mãe ou pai com seus dois filhos…”

O Babaca – (Zupo/Alpendre/Janson) – Uma Banda Chamada Z

Lá vem o babaca, o passo cheio de razão

Com a certeza da vida Incontestável, inquestionável, indiscutível, inflamável

Vem desfilando essa certeza, essa ilusão mais larga que a avenida Vem arrastando, atropelando

Mascara a dor e a frustração Lá vem o babaca, o passo cheio de razão

Com a certeza da vida Incontestável, inquestionável, indiscutível, inflamável

E eu nem sei porquê te odeio E nem sei se tem de ser Quem sabe seja porque eu vejo em mim o que há em você

Aprendeu o que chama de revolução

Não leu nem uma linha

Tão bonita e tão mal escrita a vida em que ele acredita

Tão raso é o passo simples da certeza

E do silêncio à fúria

Desejo irresistível de calar qualquer outra voz

E eu nem sei porquê te odeio

E nem sei se tem de ser

Quem sabe seja porque eu vejo em mim o que há em você

Lá vem de novo esse babaca com a razão e a certeza da vida

E a certeza da vida

E a certeza da vida

E a certeza da vida

E a certeza?

Eu sei

Eu